Mulheres na História

31/03/2020

Não há como negar que a mulher presente na narrativa antiga, sempre foi considerada aparte da sociedade, Xenofonte escreveu que a mulher deveria aceitar sua condição, onde, "que viva sob uma estreita vigilância, veja o menor número de coisas possível, ouça o menor número de coisas possível, faça o menor número de perguntas possível". Fonte da perdição e do pecado nos mitos e passagens religiosas, mas sem vontade e submissa ao homem na realidade social. Era considerada propriedade do pai e passada como um bem no casamento. 

Na Grécia era até mesmo punida com a morte em praça pública, caso traísse o esposo. Esse podia ter vários amantes tanto homens quanto mulheres e escravos, esses últimos, nem eram considerados cidadãos. É nessa sociedade que reduzia a mulher a sua função primordial, a procriação é que surge o termo Histeria (hystéra - ὑστέρα, "útero"), condição pela qual era tratada todas as mulheres que demonstrassem algum tipo de condição neurótica ou psicótica, ou que afetasse o padrão comportamental esperado pelo grupo social.

Em 1183 durante o período medieval, onde a igreja católica dominava o pensamento e os corpos no Ocidente, foi instituída a inquisição e quem mais sofre perseguição? As mulheres! Qualquer anormalidade comportamental poderia resultar numa denúncia de heresia. E a saída de algumas era alegar problemas como a histeria, para se livra da prisão, tortura e morte. O corpo da mulher durante esse momento era proibido ser visto ou interpretado de forma carnal, ela carregava consigo a fonte do pecado inicial e a perdição do mundo, ela tentou Adão a comer o "fruto proibido". (Daí que vem o resinificado da bruxa atualmente como resistência ao conservadorismo sobre o comportamento feminino)

Mas "o que Deus uniu o homem não separa", e uma das forma de poder sair de um casamento mal sucedido e que reforçava a ideia da mulher como um objeto era a venda das mulheres, prática que ficou comum após a lei do matrimonio de 1753 na Inglaterra. Após a lei instaurada pelo rei George II, ficou mais difícil se divorciar, já que obrigava um clérigo a realizar o casamento e que por isso, não poderia ser juridicamente anulado. Homens levavam suas esposas até leilões amarradas por cabrestos. Quem desse maior lance levava a mulher, e até mesmo os filhos. 

A mulher era um propriedade e constantemente o negócio era denunciado pelos próprios vendedores, afim de serem ressarcidos por um roubo de propriedade onde o compradores eram até presos. As mulheres muitas vezes consentiam com o ato e poderia recusar sua venda e seus compradores. (Neste contexto a mulher ainda tem como função principal a procriação, já que dentro do contexto social da revolução industrial mais filhos eram mais força de trabalho e consequentemente mais renda, crianças são pequenos operários. É nesse período que surge a palavra proletariado - aquele que tem uma prole grande, que tem muitos filhos. Além disso algumas eram vendidas para trabalharem em fábricas emaufaturas, onde jornadas de trabalho passavam facilmente 12 horas e constantemente causavam amputações e mortes).

Insônia, ansiedade, agitação, aumento da libido, falta de ar, desmaios que levavam a paralisia, cegueira surdez entre outros, eram os sintoma da histeria. Com o aumento de casos na era industrial no sec. XIX ela entra para o diagnóstico médico e tal síndrome passa a chamar a atenção. (Principiam-te na Era Vitoriana 1838-1901, na mesma sociedade da venda das mulheres e momento auge da industrialização da revolução industrial). O tratamento ainda baseado numa estrutura tradicional machista, continha de massagens com canhões de agua direcionado sobre o útero, e até massagens pélvicas e vaginais eram realizadas nas mulheres afim de reduzir tais sintomas.(Aqui é possível observar a referência machista ao chamar mulheres de "mal amadas", ou fazer alusão a situações comportamentais femininas a falta de sexo). 

O médico e inventor inglês Joseph Mortimer Granville (1833-1900), no final de 1880 inventou o "Martelo de Granville" uma aparelho que tinha como finalidade relaxar as pacientes, produzindo estímulos sexuais agradáveis. Granville acabara de inventar o vibrador elétrico. É sobre essa invenção que trata o filme "Hysteria" (2012), dirigido por Tanya Wexler. Nele é demonstrado como era o diagnóstico da histeria e qual era o tratamento das mulheres além, da relação do diagnóstico com a questão social Feminina. Jean Martin Charcot (1825-1893) neurologista francês também a estudou a histeria a fundo e teve a percepção que seus sintomas poderiam ser sintomáticos de questões psíquicas ou neurológicas mal resolvidas, já que neste momento campos de analise como a psicologia ainda não existiam. É com base em parte de sua percepção que Sigmund Freud (1856-1939) consegui junto com o fisiologista austríaco Josef Breuer (1842-1925), estabelecer a relação psíquica dos sintomas neuróticos ao subconsciente, a um estado oculto da mente. 

Até então, a hipnose era realizada como uma forma de percepção de uma realidade oculta da paciente. Mas com Breuer e Freud, ela foi deixada de ser realizada, estimulando sem rodeios as pacientes a se comunicarem e se expressarem por elas mesmas. Assim nascia a Cartase, a experimentação da liberdade em relação a alguma situação opressora. O avanço das pacientes foi tão significativo, que este material possibilitou não só a maior compressão do funcionamento da corpo e da mente humana, mas também da relação social a qual as mulheres eram submetidas, já que deviam corresponder a papeis sociais oprimidos já estabelecidos além da sua vontade. Tais estudos são fundamentais para o advento da psicanálise, campo repensável pelo estudo da psique humana, independente da psicologia. (As mulheres tida como loucas, histéricas em grande parte não tinham a oportunidade de se expressarem).

Com maior consciência da realização feminina, já que a mulher tinha sida fundamental na realização da revolução industrial nos teares das manufaturas, e maior liberdade de expressão, além do diagnóstico cada vez menor de histeria, no séc. XIX tem lugar o movimento sufragista (sufrágio-voto), onde mulheres em geral filhas da classe burguesa, passaram a reivindicar o direito ao voto, educação, divórcio e participação na vida política. Esse será o primeiro movimento pela luta contra o sexíssimo e a favor da igualdade de gênero. A primeira onda feminista, será fundamental o exercício de construção de um mundo mais justo. A histeria deixará de ser um diagnóstico geral e conclusivo no início do séc. XX porém, a sociedade ainda detém muito da tradição paternalista, que tenta religar a mulher um papel secundário. Como exemplo, podemos citar a situação de mulheres no antigo hospital Colônia de Barbacena MG, onde muitas eram tratadas como loucas e histéricas por não se enquadrarem nos padrões da época, ou terem tido relações com homens casados. Além disso podemos citar a situação das mulheres na carreira política que são desacreditadas ou são silenciadas, como a vereadora carioca e socióloga Marielle Franco, assassinada junto com seu motorista Anderson Gomes em 14de março de 2018. 

Indicações de aprofundamento:


Texto João Paulo Silva - Graduado em História.



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