O que fazer com a história?

17/03/2020

Das disciplinas que estão no vestibular, talvez a História seja aquela que mais suscita nos vestibulandos um misto de segurança e insegurança. Segurança porque, de certa maneira, este é um assunto que, desde que o estudamos na escola, já se apresenta a nós como algo de grande importância: Estudar o passado e como ele se relaciona com o tempo é de profundo valor para nossa constituição enquanto pessoa. Porém, ao mesmo tempo, nos gera uma insegurança devido ao fato de ser um grande acúmulo de fatos e de acontecimentos que precisam de grande atenção, e também de uma carga de leitura muito grande.  

O tempo é algo que sempre, independente da época em que vivemos, nos fascina por ser exatamente uma atividade que não está em nosso controle. O tempo é algo subjetivo, imparcial e de certa maneira também é - ou pelo menos aparenta - ser organizado pela nossa vivência e pela nossa experiência de vida. Mas o que vem a ser esse tempo? Ele é fluído ou acelerado? A história representa impulsos da memória coletiva, que deseja produzir lembranças dos fatos ocorridos. 

Sendo assim, como escreve o historiador Fernando Cartroga, a memória do historiador é componente forte de experiências primordiais em relação ao espaço e ao tempo. Sendo que a memória serve de apoio ao estudo da história. Assim, aqui iremos discutir como são o tempo e a memória dentro deste mundo que passou de uma iminente guerra nuclear para uma sociedade que vive uma eterna e acelerada mudança no cotidiano, e aqui coloco um determinante que muda nossa relação com o tempo, que é a imagem que se torna um objeto cheio de significados e de impressões, causando uma lembrança direta de um evento que aconteceu, adquirindo a capacidade ontológica de significar o próprio evento.

A temporalidade é algo que se torna ao longo dos anos uma atividade que foge aos nossos olhos. Como argumenta Paulinho da Viola na música "Sinal Fechado": 

Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas... Eu também tenho algo a dizer, mas me foge a lembrança!  

O tempo se torna algo que não conseguimos mais medir. Parece que constantemente estamos à procura de um acúmulo de atividades para fazer, mas em um espaço de tempo que se torna ao longo dos anos caótico. É como se vivêssemos em um mundo de espaço de experiência e de um horizonte de expectativas. Para explicar a vocês de uma maneira menos técnica e de uma forma clara: temos um acúmulo de experiência (que seria nossos aprendizados ao longo do passado) e uma expectativa de projetar nossos anseios, para um tempo que de certa maneira é incerto. Projetamos um horizonte de expectativas em um futuro incerto e cheio de obscuridades. 

Pode parecer um pouco confusa, a princípio, essa ideia de horizonte e espaço, mas traduzindo de uma maneira clara, seria um mundo acelerado e confuso esse em que vivemos. Como a música argumenta, fazemos tanta coisa (ou acumulamos tanta coisa) que parece que atividades do dia a dia passam como se fossem metade de um dia. Elas passam aceleradas. As lembranças, a memória e o passado são dessa forma eventos que parecem que não existem. Nós, de certa maneira, nos perdemos nesse tempo que passa rápido, e acabamos jogando nossos anseios para esse futuro de incertezas. Em outras palavras, jogamos nosso tempo em um futuro que não conhecemos e que somente imaginamos. 

A temporalidade (nossa compreensão do tempo) é a nossa marca no mundo, e tal temporalidade são expressas através da consciência histórica, consistindo por pensamentos genéricos e elementares na interpretação do homem sobre o mundo e si mesmo. Para explicar de uma maneira mais clara, a consciência histórica é um instrumento do homem para o próprio, que visa organizar e dar um sentindo ao mundo caótico em que vivemos. Um mundo de vícios do tempo, onde a aceleração causa de certa forma a necessidade, não só de organizar nossa consciência, mas acima de tudo de não perdemos aquilo que chamamos de lembrança. 

Agora que definimos o que seria esse tempo partiremos para segunda parte: a história como disciplina tem como objetivo único entender o que seria o passado, para compreender o presente, e projetar possíveis ações do futuro. Agora o que vem a ser esse passado e como é a forma que interagimos com ele? Essa é uma pergunta que pode ter inúmeras respostas, mas quase todas nos remetem à dúvida do que vem a ser o significado do passado. 

Analisando cronologicamente, por exemplo, quando temos nossa primeira aula no sexto ano do ensino fundamental, aprendemos que o passado é tudo que os homens fizeram ao longo dos anos, existindo assim: décadas, séculos e milênios. Mas o passado que iremos tratar aqui é um pouco mais psicológico do que exatamente natural, esse passado que iremos ver se apresenta muito mais no nosso inconsciente, ele se apresenta no nosso fascínio. 

O interesse pelo passado, e assim como consequência pela história, ao longo dos séculos mudou de uma forma muito diferente. Na época do século XVIII e XIX, era comum existir uma identificação dos homens com personagens marcantes na história, o que gerava uma espécie de espelho a ser seguido. Como em uma das obras de Stendhal, escritor francês, ele cria um personagem que simplesmente tem como espelho a ser seguido Napoleão, que seria um ícone francês no final da revolução francesa. 

A partir disso vemos que o passado para nós não é mais encarado como antigamente. Vivemos em uma época onde a relação nossa com o passado é muito mais de preservação do que de aprendizado, ou seja, como vemos antes sobre o tempo, temos hoje uma espécie de temor pelo não arquivamento de nossas lembranças, e criamos lugares e identidades de memória. Queremos guardá-lo, preservá-lo e acima de tudo deixá-lo pronto para outros tempos. Dessa forma, nasce um fascínio pelo passado, que seria ligado muito mais a uma tentativa de criar instrumentos que criem um ambiente para revivê-los, como museus de história, séries de TV ou até mesmo a manutenção de cidades históricas. Tudo isso mais devido a uma perda de experiência, causada pela a aceleração do tempo, do que de aprender com ele. 

O sentido de tempo mudou, como vimos antes, e de várias formas. Nunca imaginamos que viveríamos do jeito em que estamos hoje. O futuro sempre é encarado de uma forma positiva e sem problemas, sendo assim, muito dificilmente no início do século passado teríamos imaginado um início de século como o que enfrentamos: ameaças nucleares, atentados terroristas, crises econômicas, problemas diplomáticos, problemas ambientais, e acima de tudo um ritmo muito acelerado de informações, que confundem e embaralham a nossa memória. 

O tempo é vida, que faz o mundo girar, sendo uma criação do homem para controlar ele próprio. Você está pronto para conviver com esse tempo?

Profº Emerson - Blog de História Geral/CPVAM
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